Texto de Ana Carolina Thomé e Rita Mendonça publicado originalmente em: http://conexaoplaneta.com.br/blog/subir-em-arvore-um-desafio-cheio-de-aprendizado/.
Um dia desses, enquanto caminhávamos em um parque, vimos uma família com duas crianças, com aparentemente 2 e 4 anos. A família parou em frente a uma árvore, o pai tomou uma das crianças no colo e colocou-o sobre um dos galhos. Os galhos começavam a sair do tronco a partir de uma altura elevada, aproximadamente nos ombros do pai. Ele teve que levantar bastante o garotinho para colocá-lo na árvore. Pediram para que o pequeno segurasse firme no galho onde se sentara. O pai, sem soltar o corpo da criança, tentava seguir os comandos da mãe para aparecer o menos possível na foto que ela tentava fazer. Todo esse esforço era apenas para tirar a foto, sem intenção de que a criança pudesse brincar e se divertir subindo na árvore. Muito menos para experimentar seu equilíbrio e sua interação com a árvore.
Ficamos refletindo sobre o porquê dessa necessidade de mostrar algo que não corresponde à realidade vivida. E do quanto aquela situação – subir na árvore – oferecia oportunidades para aquelas crianças se desenvolverem, mas que foram desperdiçadas. Imaginamos que possivelmente a intenção da foto era para postar em alguma rede social. Que mensagem está sendo transmitida para a criança nesse momento? De que “fingir uma situação” está ficando normal. De que o mais importante é parecer e não ser.
A doutora Emmi Pikler – médica húngara que desenvolveu uma abordagem de trabalho com as crianças de 0 a 3 anos pós Segunda Guerra Mundial – nos traz muitas contribuições sobre o desenvolvimento infantil e que nos inspiram para observar essa situação. Em sua abordagem, as crianças devem ter garantido o direito de se movimentar livremente, experimentar seu corpo e o espaço e, assim, refinar seus gestos, movimentos e posturas. O papel dos adultos é observar e perceber o processo das conquistas das crianças. A intervenção do adulto deve acontecer na organização do espaço e não diretamente sobre as crianças.
Nas escolas da floresta, a Ana Carol observou as crianças brincando livremente no espaço natural, experimentando seus movimentos e enfrentando desafios. O ambiente natural oferecia todos os desafios motores de que as crianças precisavam para se desenvolver de maneira saudável. Elas subiam em árvores com muita segurança de movimentos, demonstrando estarem confiantes e com controle da situação.
Os adultos estavam presentes e atentos, mas apenas observavam. Quando necessário, propunham que uma criança, que já dominava tal movimento, ajudasse a outra que estava em suas primeiras tentativas. As crianças subiam até onde conseguiam. Todas subiam. Umas até o galho mais alto, outras permaneciam nos galhos da base, passando de um para o outro.
Sem dúvida, as escolas da floresta inglesas se tornaram uma referência importante para nós. Com a viagem da Ana Carol até lá, confirmamos aquilo no qual já acreditávamos: as crianças precisam ter liberdade para experimentar e tempo para sentir que podem avançar e conquistar novos movimentos. Quando criança e natureza estão juntas, em conexão, o tempo que leva para cada conquista é consequência dessa relação. A criança confia e conhece seus limites.
A natureza é sábia e se mostra em múltiplas possibilidades. Arriscar é condição para o desenvolvimento da coragem, para o conhecimento e a capacidade de enfrentar limitações e potencialidades, para o aprendizado sobre o corpo e a mente, que deverá acompanhar a criança por toda sua jornada de vida.
Há pais e educadores que nos perguntam: “Com quantos anos uma criança pode começar a subir numa árvore?”. Eis nossa resposta: “Quando elas estiverem prontas, uma para a outra”.
Melhor que postar fotos do filho no alto da árvore é permitir que ele experimente seus movimentos na árvore, interaja com ela e consiga chegar ao topo por si só.