Enquanto no bairro do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, Veronica colocava o pai e o irmão mais novo para fazerem as lições que ela inventava, no Tatuapé, do outro lado da cidade, Vanessa – que não era a filha mais velha – sempre tinha que ser aluna da escolinha da irmã. Desde aquela época Veronica tinha certeza de que, quando crescesse, seria professora. É verdade que houve um momento em que ela pensou em ser repórter – profissão que Vanessa queria seguir desde pequena. Quando entrou na faculdade de jornalismo, no entanto, Vanessa só fazia pautas relacionadas a crianças.
Embora paulistanas, Vanessa e Veronica tiveram uma infância plena, de sujar o pé na terra e subir em árvores. Vanessa vivia na rua: brincava de queimada, de pega-pega, até a lição de casa ela fazia na calçada. Veronica, que morava em prédio, conhecia todos os parques da cidade, mas tinha na garagem seu grande quintal, onde podia pular corda e andar de patins e de bicicleta. E era ali, no apartamento pequeno, que todos os primos se reuniam para as noites do pijama – os pais dela passavam de casa em casa com seu Uno Mille e a diversão já começava dentro do carro.
Quando a mãe de Vanessa saía para trabalhar, a avó ficava louca com a bagunça que ela e as irmãs faziam. Bagunça? A mãe voltava e rasgava elogios às filhas por terem, por exemplo, inventado um elevador de bonecas com barbante e caixa de sapato (uma colocava as passageiras em baixo e outra as puxava para o andar de cima pela lateral da escada). “Quanta criatividade!”, dizia. Já a avó de Veronica se desesperava quando ela e o irmão resolviam virar cambalhota em suas enormes almofadas (ao menos para ela, naquela época, pareciam enormes!), pois achava que podiam quebrar o pescoço. Imagine se ela visse o escorregador que Vanessa e as irmãs faziam com os colchões das camas na escada…
Vanessa brincava de guerra de mamonas na praia. Veronica tomava banho com a mangueira pendurada no varal na casa da outra avó, no interior, após o banho na piscininha de plástico. Vanessa também tinha uma piscininha de plástico, mas preferia mesmo brincar com as caixas de papelão. Quando os pais compravam um eletrodoméstico novo, era uma festa: a embalagem logo virava uma casinha, com porta e janelas, de onde ela não saía nem para tomar banho (quem sabe se fosse de mangueira?).
Das casinhas de papelão ao jornalismo, muito tempo se passou. Depois de formada, Vanessa teve a certeza de que não seguiria aquela carreira: queria trabalhar com crianças. Ingressou, então, no curso de pedagogia da Faculdade de Educação da USP. E foi ali que conheceu Veronica, a menina que desde pequena queria ser professora e não mudou de ideia depois que cresceu.
As duas tornaram-se amigas e começaram a notar muitas afinidades, fruto da infância parecida que tiveram, que as fizeram as adultas que são hoje.
Após muitos anos de convivência e ideias compartilhadas, hoje elas têm um outro ponto em comum, sem dúvida o mais importante deles: são madrinhas – daquelas bem presentes, que querem participar de tudo! Vanessa é madrinha da Sofie e Veronica é madrinha da Luiza e do Rafa (dele, de consagração). Por enquanto, é com eles que elas brincam a valer, revivendo muitas de suas experiências de criança, das quais elas nunca se esqueceram. As brincadeiras com a Luiza, a Sofie e o Rafa lhes rendem horas de conversa, troca de experiências e passeios de madrinhas e afilhados, todos juntos.
Vanessa Gonçalves nasceu em São Paulo, em 1983. Formada em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e em pedagogia pela Universidade de São Paulo, encontrou nos livros infantis um meio de unir seus dois interesses: a literatura e a infância. Foi por mais de nove anos editora do catálogo infantojuvenil da Cosac Naify e atualmente trabalha como editora freelancer, colaborando para empresas como Cia das Letrinhas, FTD Educação, Edições SM, Edições Sesc, V&R Editoras e Carambaia. Participa de cursos e formações sobre a abordagem da pedagoga húngara Emmi Pikler.
Veronica Urbani Souto é paulistana, nascida em 1987. Formada em pedagogia pela Universidade de São Paulo, cursou especialização em educação inclusiva e deficiência intelectual na PUC-SP. Em 2009, viajou a Parma, na Itália, onde participou de um curso promovido pela Università degli Studi di Parma e pôde conhecer as escolas de Educação Infantil da região, referência na união entre público e privado. Desde a graduação, sua maior experiência foi na Educação Infantil. Hoje, trabalha como professora de educação infantil na Prefeitura de São Paulo e acompanhante terapêutica de crianças com deficiência ou transtornos globais do desenvolvimento.